FORÇA TRANS NA UNIVERSIDADE (ufsm)

“A GENTE JÁ É BEM FORTE POR ESTAR EXISTINDO NESSE MUNDO, ESTAR NA FACULDADE É SÓ MAIS UM PASSINHO”

Em meio a muitas barreiras enfrentadas ao longo de suas vidas, a comunidade Trans e não binária, vem conquistando cada vez mais espaço no âmbito acadêmico, tal fato acarreta uma grande mudança nas estatísticas para o futuro dessas pessoas. A expectativa de vida das travestis e das mulheres trans é de 35 anos, sendo menos da metade da população nacional que é de 75 anos, de acordo com IBGE.

Infelizmente, a UFSM possui uma pequena quantidade de acadêmicos que se enquadram nessa comunidade, é quase nulo a presença de pessoas trans entre os mais de 140 cursos presenciais de graduação da instituição. Assim, muitos alunos que chegam ou que já estão inseridos na universidade buscam apoio em outras pessoas nas mesmas condições.

“A Universidade deve melhorar o acolhimento das pessoas trans ao ingressar na faculdade, montando um coletivo para nos sentirmos acolhidos. Quando cheguei aqui, eu sabia que existia outras pessoas trans e não binárias, eu só não sabia onde encontrá-las. Gostaria de mais projetos para conscientizar a população, para que ela nos respeitem e para evitar a ignorância”. Relata José Luiz, Não Binário, Acadêmico de Produção editorial, atualmente no 5º semestre.

“ALGUMAS MENINAS ME FALARAM QUE NÃO VIRIAM E QUE EU NÃO DEVERIA PARA A FACULDADE, PORQUE AQUI NÃO É NOSSO LUGAR E, QUE O QUE VAI RESTAR SERÁ APENAS A PROSTITUIÇÃO”

De acordo com os levantamentos da organização “Trans Respect”, apenas 0,2% da população Trans está na universidade. Estima-se que 13 anos de idade é a média para que essa população seja expulsa de casa pelos pais, 72% deles não possuem o ensino médio e 56% não possuem nem mesmo o ensino fundamental.

“Não é atoa que quando uma pessoa trans se forma, faz um mestrado ou desenvolve uma pesquisa ela vira notícia, nós estamos tão afastadas do mundo acadêmico, que as trans que se formam acabam se tornando destaques”. Relata  Nati Castro, Travesti, graduanda no curso de Arquitetura e Urbanismo da UFSM, atualmente no  5º semestre.

As pessoas transexuais são excluídas do mercado de trabalho diariamente, com raras oportunidades de emprego, cerca de 90% das pessoas trans no Brasil acabam recorrendo à prostituição. A estimativa foi feita pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra); Os dados recolhidos aponta que essas pessoas recorrem a essa profissão ao menos em um momento da vida.

“Para que as transexuais estejam aqui na universidade é necessário cota pra trans, porque a gente tem cotas para negros, indígenas que são minorias e o objetivo das cotas é fazer com que essas pessoas sejam inseridas na faculdade,, nada mais justo do que termos cotas para trans, para que elas também estejam aqui, já existem algumas universidades que possuem, a UFSM deveria aderir essa política”. Clama Helena Santos, Trans, graduanda de Ciências Econômicas, atualmente no 2º semestre.

A Universidade tem um papel fundamental na inclusão dessa minoria, incluindo a todos no cenário acadêmico, e evitando que essas pessoas acabem na rua por acreditarem que existe apenas uma saída.

“ME RESPEITE DA FORMA QUE EU SOU, PELA ESTUDANTE QUE SOU E NÃO PELA MINHA IDENTIDADE DE GÊNERO”

Resistindo, a comunidade T e Queer da UFSM, usa suas forças para lidar com todas as barreiras da vida no âmbito acadêmico, passando por cima das discriminações e se adaptando ao novo mundo de acordo com suas necessidades. Alguns alunos relatam que parte dos professores da instituição são compreensivos e solidários em relação a suas identidades de gêneros, mas o maior apoio vem de amigos e colegas que compartilham da mesma vivencia, essa união é responsável na maioria das vezes pela permanência desses alunos na universidade.

“As minhas maiores dificuldades na UFSM são referentes ao preconceito, eu acho que com o tempo vou  amadurecendo e me acostumando com ele. Na verdade isso é errado, se acostumar com o preconceito, mas a gente acaba se acostumando, essa é a nossa forma de lidar, porque o preconceito em si é naturalizado por um processo histórico. Esses pensamentos que são aplicados no campo social por meio de ofensas se tornam naturais e as pessoas entendem que isso é normal, que fazer este tipo de preconceito é normal, mas definitivamente não é”. Esclarece Helena.

Contribuindo para o conforto desses alunos, o departamento de Ciências Sociais da UFSM possui um projeto onde visa promover um espaço para diálogos sobre a diversidade de Gênero, o “Grupo de apoio e debate a pessoas LGBTQIA”. Ele acontece todas às quartas no segundo andar da União Universitária, dentro das instalações do Satie Prae, das 17:30 as 19:00.

“Participo do grupo de vivências um pouco mais de 2 anos, o grupo é um projeto de extensão coordenado pela professora Cláudia e mediado pela psicóloga Fernanda. Lá temos escuta e acolhimento de fala, alguém para nos auxiliar, uma professora que estuda gêneros e uma psicóloga que lida de uma forma mais sensível sobre nossas questões. Comenta Alisson Batista, Trans Não-binária, graduanda de Ciências Sociais, atualmente no 7º semestre.

“POR MAIS QUE EU TENTE NÃO ME IMPORTAR, EU ME IMPORTO, E UMA HORA  A CONTA VAI CHEGAR E EU VOU ME SENTIR A PIOR PESSOA”

A sociedade necessita conscientização, entender é o primeiro passo para respeitar qualquer diferença. A Universidade age diretamente nessa conscientização, exigindo empatia e impondo seus ingressantes a conviver em harmonia.

“Eu acho que o respeito, deve estar primeiro lugar, pois quando as pessoas aprenderem a respeitar o outro enquanto ser humano e não enquanto uma trans, um cis, aí acho que as pessoas vão acabar evoluindo, vão passar por cima das diferenças. Acho que a maior arma que a gente tem é a educação, que vai fazer com que as pessoas da sociedade em geral reflitam e pensem que o respeito  é o mais importante”. Afirma Helena.

“VEM E SEJA FORTE, NÃO VAI MELHORAR, SÓ VENHA, BOTA A CARA A TAPA E É ISSO”

A Universidade Federal de Santa Maria está entre as universidades mais inclusivas e diversas do  mundo, de acordo com o ranking University Impact 2019 (Impacto das Universidades), publicado pela revista britânica Times Higher Education. Mas, o ingresso dessa minoria é ainda escasso, as portas de entradas ainda são limitadas e a conscientização é imprescindível para que elas se enxerguem como pessoas capacitadas no meio universitário.

“Vem e seja forte, não ligue para o que as pessoas falam. Provavelmente essa pessoa já enfrentou muita coisa em sua vida até agora, não vai melhorar, só venha e bota a cara a tapa e é isso. A gente já é bem forte por estar existindo nesse mundo, estar na faculdade é só mais um passinho”. Finaliza José Luiz, Não Binário, Acadêmico de Produção editorial, atualmente no 3º semestre.

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