Meia noite de Carnaval

Como não tinha costume de sair, mais uma vez passaria a noite embolada em lençóis da sua cama sob a luz do celular à espera das mensagens de Caetana. Amizade. Era o que elas acreditavam. Entretanto, todos a sua volta já imaginavam o que estava por vir, pois Virgínia estava se descobrindo como pessoa no mundo e quando Caetana cruzou na sua vida essa foi a oportunidade que ela enxergou para experimentar coisas nada sentidas antes. A ansiedade a fazia esperar por uma mensagem que só seria lida e respondida em meio a ressaca do dia seguinte. Sem esperanças ela desiste de Caetana e resolve ir dormir. Logo, seu celular começa a tocar ao toque da música favorita de Caetana, que agora também era seu.

— Vamos sair, Vi! — Fala prontamente uma voz masculina. — Beber um pouco…

— Ah… Oi, Danilo. Sim, vamos… Não, espera! Eu estava quase dormindo, acho que não vou sair hoje.

Ao fundo, Caetana gritava “Vamos Virgínia!” e pega o celular de Danilo para falar com ela.

— Tu mora perto da festa e não sai?! Então a montanha vai até Maomé. — De repente, alguns gritos chamam pelo seu nome e como nada poderia ser feito para evitar isso, foi para frente de casa. Assim, pôs-se a observar Caetana como costumeiramente fazia, já que era noite de Carnaval, Caetana estava a vestir roupas tão leves quanto o seu espírito e ao ver Virgínia de pijama começa a rir.

— Desse jeito irá arrasar corações. — Diz ela, terminando com uma piscada para Virgínia.

— Prontinho! — Disse um pouco envergonhada para mudar de assunto.

Conversas vão e conversas vêm, começam as risadas e logo aparece a mãe de Virgínia, Dona Lívia para alguns, para ver o porquê da bagunça tão tarde da noite. — Boa noite, crianças! — Diz Lívia energeticamente — O que estão pensando em aprontar essa noite?

—  Deixa a Virgínia sair com a gente, só uma festinha não mata ninguém. — Danilo exclama.

— Eu não vou, estou morrendo de sono. — Virgínia olha para Caetana e quando ela retribui o olhar acaba desviando quase que instantaneamente. — Amanhã a gente combina algo.

Minutos depois, Danilo importuna de novo. — Você teria um copo de água?

— Vem que te dou água, mas em copo plástico, vai que tu quebre os meus copos de vidro. — Todos riem e Danilo se levanta para acompanhar Dona Lívia que estava a poucos passos da porta até a cozinha. — Tia, acho que vou querer ir no banheiro também…

Agora, na frente de casa estava apenas Caetana e Virgínia, lado a lado, pairando sobre elas um silêncio, que de tão profundo tornou-se possível escutar seus batimentos que a cada segundo ficavam mais forte. Virgínia já não conseguia mais olhar no rosto de Caetana, pois sozinhas agora sentia medo do que poderia acontecer.

— Estão bonitas as estrelas, não acha? — Fala Caetana. — Virgínia concorda com a cabeça e ao voltar para o horizonte vê Caetana olhando para ela apreciando os delicados traços de seu rosto e sua boca como se a convidasse para um beijo. Contudo, não podia se permitir deixar levar pelo momento.

— Caetana… — Fala timidamente. — Tem um lugar melhor onde podemos ver as estrelas…

— Onde? — Virgínia pega da sua mão, levando-a para o lado de sua casa, onde a luz não interferia diretamente a visão das estrelas. Olhando para ela tão perto quanto se olharia no espelho continua. — Você não sente?

— O quê? — Baixa os olhos e começa a brincar com os pés. Após Virgínia falar se desfaz, voltando para o muro onde já estavam sentadas e mais uma vez voltam a se olhar. Ela já sentia que não aguentava mais olhar para Caetana e não poder senti-la estava se tornando uma ideia torturante. Aos poucos o silêncio constrangedor que uma vez pairou sobre as duas transformava-se no maior desejo que jamais poderiam ter sentido alguma vez. — Caetana… Eu acho que sinto sim. — Diz Virgínia que depois dessa declaração sentia-se mais pesada, como se a gravidade a puxasse para Caetana que a via com os olhos brilhando como se partes de seu corpo não pudesse sentir mais, mas ainda assim gostaria de ter ela. — Por favor…

— Saiba então que eu também sinto o mesmo… — Sussurra Caetana enquanto cola a sua testa na dela. — Permita-se, Virgínia.

— Sim… — Fala lentamente enquanto uma mão sobe pelo rosto da Caetana sentindo no toque todas as suas linhas e sua textura. a outra vai se entrelaçando nos finos dedos da mão dela. Aos poucos o sentimento de medo vai deixando o seu corpo e o peso que antes sentia se tornara leveza, fazendo-a sentir que ia flutuar diretamente para os lábios macios de Caetana. De testas coladas passavam a encostar os seus narizes que como esquimós davam já beijinhos tímidos, virando aos poucos seus rostos para o encaixe do tão esperado beijo repleto de ternura, de desejo, de calor de uma chama que apenas a juventude de duas meninas se descobrindo poderia oferecer a esse momento.

Mão com mão, peito no peito, suas bocas estavam a se encaixar… Até que a porta que não havia sido fechada range e abre novamente.

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